domingo, 2 de junho de 2013

"Véspera de Natal, 1998
Exatos quarenta dias após ter segurado a mão de seu marido pela última vez, Julie Barenson estava sentada diante da janela, olhando as ruas tranquilas de Swansboro, Carolina do Norte. Fazia frio. O céu estava fechado havia uma semana e a chuva batia suavemente na vidraça. As árvores estavam desfolhadas e os galhos ásperos, curvados ao vento como dedos artríticos. Julie sabia que Jim teria desejado que ela ouvisse música essa noite. Ao fundo, Bing Crosby cantava “White Christmas”. Também havia sido para ele que montara a árvore, mas quando decidira fazer isso os únicos pinheiros restantes já estavam secos, abandonados do lado de fora do supermercado para quem quisesse levá-los. Não tinha importância. Na verdade, não conseguira reunir energia suciente para se importar nem mesmo depois de terminar de decorar a árvore. Estava difícil sentir qualquer coisa desde que o tumor no cérebro de Jim enfim lhe tirara a vida. Aos 25 anos, Julie era viúva e detestava tudo nessa palavra: o som, o signicado, o modo como sua boca se movia ao pronunciá-la. Evitava-a ao máximo. Se as pessoas lhe perguntavam como estava, limitava-se a dar de ombros. Mas às vezes, apenas às vezes, sentia necessidade de responder. Quer saber como é ser viúva? Então lhe direi: Jim está morto e agora sinto como se eu também já não vivesse mais. Julie se perguntava se era isso que as pessoas queriam ouvir. Ou se esperavam que ela dissesse os lugares-comuns: Vou cair bem. É difícil, mas vou superar isso. Obrigada por perguntar. Ela achava que poderia se mostrar forte, mas nunca zera isso. Era mais simples e honesto apenas dar de ombros e não dizer nada. Anal de contas, não sentia que caria bem. Durante metade do tempo não achava nem que seria capaz de chegar ao m do dia sem desmoronar. Sobretudo em noites como essa. Julie encostou a mão na janela, que reetia o brilho das luzes da árvore, sentindo o vidro frio em sua pele."   Nickolas Sparks-  O Guardião

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