domingo, 2 de junho de 2013

"Richard, tentando soltá-las enquanto seu corpo começava a se encher de adrenalina. Mas Richard se recusou a aliviar a pressão. Mike se debateu furiosamente, tentando em vão alcançar o rosto de Richard. Todas as células do seu corpo gritavam por oxigênio. Bateu com as pernas tentando afastá-lo, mas Richard não se moveu. Tentou mover a cabeça de um lado para outro, mas isso só fez Richard apertar com mais força. E a dor..." Nickolas Sparks- O Guardião
"Não sei se vocês sabem disso, mas Robert Bonham, ou Richard, saiu do emprego um mês atrás. Na casa dele, encontramos fotografias suas, Julie. Centenas delas. Até onde sabemos, ele a observava desde que vocês começaram a sair juntos. E também investigou seu passado. – O que você quer dizer? – perguntou Julie, lívida. – Na semana em que ele disse que tinha ido visitar a mãe à beira da morte, na verdade foi para Daytona saber mais sobre você. Um detetive particular estava investigando sua história. Falamos com sua mãe sobre isso. Parece claro que ele a tem perseguido durante todo esse tempo. Como um caçador, pensou Julie, sentindo um nó na garganta. – Por que eu? – nalmente perguntou. – Por que ele me escolheu? – As palavras saíram como um lamento, como as de uma criança prestes a chorar. – Não tenho certeza – respondeu Jennifer. – Mas deixem-me lhes mostrar o que mais descobrimos. Mais? O que agora? Jennifer tirou do arquivo a foto que encontrara na mesa de cabeceira e a deslizou sobre a mesa. Mike e Julie olharam para a foto e então ergueram os olhos lentamente." Nickolas Sparks- O Guardião
"–O nome dele é Robert Bonham – começou Jennifer. – O verdadeiro Richard Franklin está desaparecido há três anos. – Não entendo – disse Julie. Eles estavam na cozinha da casa de praia de Henry, Mike e Julie sentados à mesa e Pete encostado no balcão, firme na posição de policial calado. Mike pegou a mão de Julie e a apertou. Jennifer sabia que tinha de começar do início, já que nenhum dos dois sabia nada sobre a investigação. Ir passo a passo minimizaria as perguntas e também lhe permitiria explicar a gravidade da situação. – Como isso é possível? – perguntou Mike. – O verdadeiro Richard Franklin não era casado e, fora a mãe, que morreu em uma casa de repouso no ano passado, ninguém notaria se seu número do seguro social voltasse a ser usado. E como ele era considerado desaparecido e não morto, não havia nada que pudesse causar alarme. Mike olhou para ela. – Você acha que Robert Bonham o matou. – Foi mais uma armação do que uma pergunta. Jennifer fez uma pausa. – Com base em tudo o que descobrimos sobre ele? Sim, isso parece provável. – Meu Deus..." Nickolas Sparks- O Guardião
"Richard observou os policiais. Respirou longa e profundamente e depois foi mais para dentro do bosque, perguntando-se como eles haviam conseguido ligar Andrea a ele tão depressa. DNA? Não, isso leva tempo. Uma semana pelo menos. Andrea devia ter falado alguma coisa para alguém, embora ele tivesse lhe dito que mantivesse a boca fechada. Ou isso ou alguém os vira juntos. Talvez no bar. Ou em Morehead City. Não importava. Ele já sabia que seu tempo como Richard Franklin chegara ao m. A situação com Andrea só acelerara o inevitável. Apesar da limpeza mais cedo, sabia que seria impossível eliminar todas as evidências do que zera com a mulher. A ciência forense evoluíra a ponto de os especialistas poderem identificar minúsculos vestígios de sangue ou os de cabelo de Andrea, e fora por isso que ele não se deu oi trabalho de esconder o corpo dela. Se de algum modo eles obtivessem um mandado de busca – o que realmente era apenas uma questão de tempo – descobririam o que precisavam para condená-lo." Nickolas  Sparks- O Guardião
"Jennifer levou uns dez minutos para contar tudo o que descobrira: a estranha história de crédito, a nova empresa em Ohio para substituir a do Colorado, o aparente desejo de ser discreto, os comentários de Jake Blansen sobre Richard ser perigoso e o fato de que ele não trabalhava mais para a J.D. Blanchard. Quando terminou, Pete estava dando tapinhas no volante e assentindo com a cabeça, como se tudo fizesse total sentido. – Eu tinha certeza de que havia algo estranho naquele sujeito – disse Pete. – Mesmo na academia, ele pareceu um pouco ardiloso, sabe? Jennifer olhou para Pete, sem palavras. Apesar de seu alívio por ele enfim ter percebido a verdade e seu desapontamento por praticamente precisar que ela esfregasse na sua cara o que era óbvio, pelo menos agora ele estava do seu lado. – Sei – disse Jennifer. Pete ignorou o sarcasmo no tom dela e deu outro tapinha no volante. – Então, se Richard não está trabalhando, onde está? – perguntou. – Não sei. Poderíamos tentar a casa dele. "Nickolas Sparks- O Guardião
"Julie cruzou os braços e olhou para o chão. Singer estava sentado ao seu lado com a cabeça apoiada em sua perna. Instantes depois ele ganiu e Julie começou a acariciá-lo. Como se soubesse o que estava acontecendo, o cão não havia saído do seu lado desde que Mike fora embora. Ela tinha certeza de que Richard não pusera as fotos no medalhão na noite em que dormira lá. Pelo amor de Deus, ele tinha acabado de voltar de um funeral! Qual a probabilidade de estar carregando duas pequenas fotos dele para o caso de conseguir pô-las no medalhão enquanto ela dormia no outro quarto? Sem chance. Não, ele estivera ali. Dentro da sua casa. Vasculhando, abrindo gavetas, revirando
suas coisas. O que significava que ele sabia como entrar. E poderia entrar de novo. Julie sentiu a garganta se fechar ao pensar nisso. Correu para a cozinha, pegou uma cadeira e a encaixou sob a maçaneta da porta da frente. Como Mike pôde deixá-la? Com Andrea desaparecida e Richard a perseguindo? Como ele pôde deixá-la sozinha esta noite? "
Nickolas Sparks- O Guardião
"Eles fizeram amor e, embora não tenha sido tão constrangedor quanto Julie temera, não chegaram a pegar fogo. Mais do que tudo, Mike quis satisfazer Julie e ela quis dar prazer a Mike, e houve um excesso de pensamentos por parte de ambos para que apenas desfrutassem o que estava acontecendo. Quando terminaram, ficaram deitados na cama perto um do outro, ofegantes e olhando para o teto, ambos pensando: realmente estou sem prática. Espero que Julie/Mike não tenha notado. Sentiram-se à vontade ao se abraçarem depois, seus sentimentos iniciais de urgência substituídos por ternura. Mais uma vez, disseram um ao outro que se amavam. Uma hora depois, quando fizeram amor pela segunda vez, foi perfeito"
Nickolas Sparks- O Guardião
"A noite nem de longe foi tão difícil quanto ele imaginou. Como sempre, eles travaram uma conversa despreocupada, sentindo a brisa da noite soprar. Uma hora depois, Mike ligou a grelha e assou os bifes enquanto Julie entrava para preparar uma salada. Na cozinha, ela pensou que Mike parecia um tarado que passara anos em uma ilha deserta. O pobre coitado passara a noite inteira olhando para ela e, embora tentasse parecer prudente, Julie sabia muito bem no que ele estava pensando, porque, para ser sincera, estava pensando na mesma coisa. Suas mãos estavam frias
e úmidas e ela mal conseguia segurar os legumes e as verduras. Julie cortou os pepinos e os tomates em cubos e os acrescentou à tigela, depois pôs a mesa com seu bonito jogo de porcelana. Chegando para trás para ver o efeito, percebeu que estava faltando alguma coisa. Encontrou duas velas, posicionou-as no centro e as acendeu. Então apagou a luz da sala e a da cozinha e, fez um sinal afirmativo com a cabeça, satisfeita. "
Nickolas Sparks- O Guardião.
"Ele sabia que estava apaixonado por Julie. Isso cara claro nas últimas semanas que haviam passado juntos, mas era diferente do modo como se sentia antes de começarem a sair. Julie não era mais uma fantasia, mas algo real, algo sem o qual Mike não conseguia mais se imaginar vivendo. Ele cruzou os braços, como se estivesse se protegendo da possibilidade de tudo isso lhe escapulir. Ela pôs um par de brincos, sorrindo por um instante e se perguntando o que ele estava achando tão interessante, mas se sentindo satisfeita com a apreciação. Pegou o perfume, borrifou um pouco no - pescoço e nos punhos e depois os esfregou. Dessa vez encarou Mike. – Melhor? – perguntou."
Nickolas Sparks- O Guardião
"Richard se lembrou da conversa que teve com ela quando se sentaram no sofá em seu escritório. Lembrou-se de ter pensado que um dia ela devia ter sido bonita, mas que todo o glamour desaparecera. Seus cabelos eram uma mistura de louro desbotado e cinza e, quando ela sorria, as rugas faziam seu rosto parecer seco e rachado. Mas Richard precisava de uma aliada. Precisava de alguém que atestasse seu caráter, que dissesse que ele não era um arruaceiro, mas uma vítima, e a Sra. Higgins era perfeita. Tudo na atitude dela sugeria um desejo de demonstrar empatia e gentileza – o modo como se inclinava para a frente com olhos tristes, assentindo constantemente enquanto ele lhe contava histórias terríveis sobre sua infância. Mais de uma vez, os olhos da Sra. Higgins ficaram marejados. Meses depois ela o via como um filho e Richard cumpriu bem o seu papel. Deu- lhe um cartão de aniversário e ela lhe comprou outra câmera, uma 35mm com lentes de qualidade, que ele tinha até hoje. Richard sempre havia sido bom em matemática e ciências, mas a Sra. Higgins conversou com seus professores de história e inglês, que começaram a ser mais benevolentes com ele. Seu rendimento escolar deu um salto. Ela informou ao diretor que o resultado do teste de QI de Richard alcançara um nível de gênio e insistiu para que ele fosse admitido nos programas para alunos superdotados. Sugeriu que Richard fizesse um portfólio com suas fotografias para mostrar seu talento e arcou com todos os custos. Escreveu uma carta de recomendação para a Universidade de Massachusetts, a alma mater dela, dizendo que nunca vira um jovem superar tantas coisas. Fez uma visita à universidade, se reuniu com o comitê de admissões, mostrou o portfólio dele e implorou que lhe dessem uma chance. Ela fez tudo o que pôde e, embora tivesse  ficado profundamente satisfeita ao saber que seu esforço valera a pena, não foi Richard quem lhe contou. Depois de ter sido aceito na universidade, ele nunca mais falou com a Sra. Higgins. Ela servira ao seu propósito e não tinha mais utilidade para ele. Do mesmo modo, Mike servira ao seu propósito com Julie, mas agora isso havia
acabado. Mike tinha sido um bom amigo, mas era hora de tirá-lo do caminho. Ele a estava empatando, contendo, evitando que ela escolhesse seu próprio futuro. O futuro com Richard."
Nickolas Sparks- O Guardião
"Fora esse conhecimento secreto de seu caráter único que o confortara nos sucessivos lares de adoção temporária. Além de algumas peças de roupa, os únicos itens que havia trazido com ele foram a câmera que roubara de um de seus antigos vizinhos e a caixa de fotografias. As primeiras pessoas que o receberam pareceram bastante gentis, mas na maioria das vezes ele as ignorou. Ia e vinha quando bem entendia, sem querer nada além de um lugar para dormir e comer. Como em muitos lares de adoção temporária, não era o único morador e dividia um quarto com dois garotos mais velhos. Foram eles que roubaram sua câmera dois meses depois de ele se mudar para lá e a venderam em uma casa de penhores para comprar cigarros. Quando Richard os encontrou, eles estavam jogando num estacionamento vazio. No chão havia um taco de beisebol. Ele o pegou. No início os garotos riram, porque eram mais altos e mais fortes. Contudo, acabaram indo para o hospital de ambulância, com seus rostos irreconhecíveis. A assistente social do lar de adoção temporária quis mandar Richard para um centro de detenção juvenil. Ela fora à casa mais tarde naquele dia acompanhada da polícia, depois que seus pais adotivos
o denunciaram. Richard foi algemado e levado para a delegacia. Lá, sentou-se em uma cadeira de madeira dura de frente para um policial corpulento chamado Dugan, numa pequena sala espelhada. Com nariz de batata e rosto marcado pela catapora, Dugan tinha um modo severo de falar. Inclinando-se para a frente, disse a Richard quanto ele ferira os garotos e que passaria os próximos anos preso. Mas Richard não sentiu medo, assim como não sentira quando a polícia interrogara ele e a mãe a respeito da morte de seu pai. Ele sabia que isso ia acontecer. Baixou os olhos e começou a chorar. "  Nickolas Sparks- O Guardião
"Richard estava sentado na cama do quarto escuro, com as costas apoiadas na cabeceira. Havia fechado as cortinas. O quarto só estava iluminado por uma pequena vela na mesa de cabeceira. Ele enrolava um pedaço de cera entre os dedos, pensando em Julie. Ela tinha sido bastante gentil no supermercado, mas sabia que lamentara ter encontrado com ele. Richard hesitou, perguntando-se por que Julie havia tentado esconder isso. Era inútil, pensou. Ele sabia exatamente como ela era. Conhecia-a melhor que ela mesma. Por exemplo, sabia que Julie estava com Mike esta noite e que via nele o conforto que um dia tivera e esperava reencontrar. Julie tinha medo do novo, pensou Richard, desejando que conseguisse ver que havia muito mais para ela lá fora, muito mais para eles dois. Será que ela não percebia que, se continuasse ali, Mike a arrastaria para baixo? Que seus amigos acabariam magoando-a? Era o que acontecia quando você deixava o medo comandar suas decisões. Richard sabia disso por experiência própria. Havia desprezado seu pai tanto quanto Julie desprezara os homens que entraram e saíram de sua vida. Ele odiava sua mãe pela fraqueza dela, assim como Julie odiava a fraqueza da própria mãe. Mas Julie estava tentando fazer as pazes com seu passado, revivendo-o. O medo fazia com que tivesse um conforto ilusório, mas aquilo era apenas ilusão. Ela não tinha que acabar como a mãe; não tinha que levar a vida que a mãe levara. Podia ser tudo o que quisesse. Como ele era." Nickolas Sparks- O Guardião
"Ela o observou trabalhando e mais uma vez notou como ele cava bonito de jeans e era mais confiante ao fazer coisas desse tipo. Ao beijá-lo enquanto trabalhava, a expressão no rosto de Mike lhe disse exatamente como ele se sentia em relação a ela, e Julie percebeu que o que antes era perturbador agora era a reação pela qual ansiava. Quando Mike foi embora, ela se encostou no lado de dentro da porta e fechou os olhos. Uau, pensou, sentindo-se como Mike se sentira duas noites antes." Nickolas Sparks- O Guardião
"Eles passaram o dia andando descalços na areia branca, jogando frisbee para Singer e sentados em toalhas vendo a espuma se agitar sobre as ondas. Compraram uma pizza para o almoço. Ficaram lá até o céu se tornar púrpura com o pôr do sol. Jantaram juntos e depois foram assistir a um lme. Mike deixou Julie escolher e não reclamou quando ela se decidiu por um romance água com açúcar. E quando Julie cou com lágrimas nos olhos no meio do lme e se aconchegou a ele até o fim, ele esqueceu a crítica mordaz que estava preparando em sua mente. Era tarde quando voltaram para a casa de Julie e mais uma vez se beijaram na varanda. Dessa vez o beijo durou um pouco mais. Para Julie, foi ainda melhor. Para Mike, isso era possível ou necessário. Eles passaram o domingo na casa de Julie. Mike cortou a grama, aparou a sebe e cuidou das plantas no vaso. Depois entrou e começou a fazer os pequenos reparos necessários em casas antigas – martelou os pregos que haviam se soltado de algumas tábuas do chão de madeira de lei, lubricou as fechaduras e pendurou uma nova luminária que Julie havia comprado para o banheiro meses antes."  Nickolas Sparks- O Guardião
"Afinal de contas, Mike beijava muito bem, concluiu. Perdida em pensamentos, Julie mal notou os faróis de um carro vindo por sua rua normalmente tranquila e desacelerando ao passar pela casa dela."
Nickolas Sparks- O Guardião
"Na varanda, mariposas voavam ao redor da lâmpada, batendo nela como se tentassem atravessar o vidro. Uma coruja piou em uma árvore próxima. Mike, contudo, não ouviu nada. Perdido no toque suave de Julie, teve certeza de uma coisa: no instante em que seus lábios se tocaram pela primeira vez, houve uma vibração quase elétrica que o fez acreditar que aquela sensação duraria para sempre."
Nickolas Sparks- O Guardião
"Eles comeram e beberam sem pressa, conversando e rindo, mal notando o garçom andando rapidamente ao redor da mesa, recolhendo seus pratos. Quando estavam prontos para partir, o céu ficara repleto de estrelas. " Nickolas Sparks- O Guardião
"Mike chegou na hora marcada e Julie saiu, fechando a porta antes que Singer a seguisse. Notou que Mike estava usando calça social e blazer, e sorriu. – Nossa! – exclamou. – Há duas noites seguidas você está muito elegante. Vou demorar um pouco a me acostumar com isso. O comentário também valeria para ela mesma. Como na noite anterior, Julie usava um vestido leve que realçava sua silhueta. Pequenas argolas de ouro pendiam de suas orelhas e Mike notou um leve traço de perfume. – Exagerei? – perguntou ele. – De jeito nenhum – tranquilizou-o Julie, tocando em sua lapela. – Gostei do blazer. É novo? – Não, já o tenho há algum tempo. Só não o usava muito. – Pois deveria. Fica ótimo em você. Mike ergueu os ombros e apontou para a picape antes que ela prolongasse o assunto. – Então, podemos ir? – Quando você quiser. "
Nickolas Sparks- O Guardião
"Quando saiu do salão, no m do dia, Julie ainda pensava em seu almoço com Emma. Na verdade, pensava em muitas coisas, principalmente em Jim. É claro que essa não tinha sido a intenção de Emma, nem a própria Julie sabia dizer por que se sentia daquela maneira, mas aquilo tinha algo a ver com o comentário de Emma sobre a mãe dela. E, é claro, sobre Henry não conseguir seguir em frente se a perdesse. Naquela tarde, Julie sentiu falta de Jim como havia muito tempo não sentia. Achou que era em virtude do que estava acontecendo com Mike. Ela estava seguindo em frente, mas começou a se perguntar se Jim seguiria, se estivesse em seu lugar. Achava que sim, mas, se não seguisse, isso significaria que a amara mais do que ela a ele? O que vai acontecer se eu me apaixonar por Mike?, perguntou-se. O que vai acontecer com meus sentimentos por Jim? Minhas lembranças? Essas coisas não saíam de sua cabeça desde o almoço e Julie ainda não queria encarar as respostas. Será que, pouco a pouco, suas lembranças se tornariam menos nítidas, como fotografias antigas? " Nickolas Sparks- O Guardião
"Naquela noite ele havia bebido de novo e Richard e a mãe estavam tentando ficar fora de seu caminho, fazendo o possível para não serem notados. Quando o garoto se sentou à cozinha, ouviu o pai xingando enquanto assistia a um jogo de futebol na TV. Havia apostado em seu time favorito – os Patriots –, mas perdera, e Richard percebeu sua raiva quando ele veio pelo corredor. Um segundo depois entrou na cozinha com a câmera e a pôs sobre a mesa. Na outra mão segurava um martelo. Certicando-se de que tinha a atenção do filho, esmagou a câmera com um único golpe. – Trabalho a semana inteira para ganhar a vida e tudo o que você faz é jogar dinheiro fora. Agora esse problema acabou! Mais tarde naquele ano, o pai morreu. As lembranças daquele dia também eram vívidas: a fresta do sol da manhã sobre a mesa da cozinha, o olhar perdido da mãe, o pingar constante da torneira enquanto as horas passavam e a tarde chegava. Os policiais falando em tons apressados, indo e vindo. O médico-legista chegando e levando o corpo. E depois o choro da mãe, quando eles finalmente ficaram sozinhos. – O que vai ser de nós sem ele? – soluçava, sacudindo-o pelos ombros. – Como isso pôde acontecer? "Nickolas Sparks- O Guardião
"Mike estava apaixonado por Julie, mas disso Richard já sabia. Não sabia era do m de seu relacionamento anterior e a infidelidade de Sarah o intrigara. Lembrou-se de ter balançando a cabeça pensando nas oportunidades que se apresentavam. Richard também soube que Mike tinha sido padrinho de casamento de Julie, e o relacionamento entre os dois começou a fazer sentido para ele. Mike era um elo confortável, um elo com o passado dela com Jim. Entendia o desejo de Julie de se apegar a isso e afastar tudo o que pudesse lhe tirar o que tivera. Mas esse era um desejo nascido do medo – medo de acabar como sua mãe, medo de perder tudo pelo qual tanto se esforçara, medo do desconhecido. Não era de admirar que Singer dormisse no quarto com ela. Ele também suspeitava que Julie tivesse trancado a porta. " Nickolas Sparks- O Guardião
"Dentro da casa vitoriana alugada, Richard subiu a escada e foi para o quarto do canto. Tinha pintado as paredes de preto e coberto as janelas com lona encerada e ta vedante a m de bloquear a luz natural. Na parede oposta, havia uma lâmpada vermelha pendurada sobre uma mesa improvisada. Seu equipamento de fotografia estava num canto: quatro câmeras diferentes, uma dúzia de lentes, rolos de lumes. Ele acendeu a lâmpada e ajustou o ângulo da sombra para que a luz se espalhasse melhor. Perto dos recipientes rasos com os produtos químicos que ele usava na revelação havia uma pilha de fotografias que tirara em seu encontro com Julie. Ele as pegou. Viu as imagens, parando de vez em quando para olhar para Julie. Ela parecia feliz naquele m de semana, como se soubesse que sua vida mudaria para melhor. Era adorável. Estudando suas feições, não encontrou nada que explicasse o que acontecera na noite anterior. Richard balançou a cabeça. Não se ressentiria do erro de Julie. Uma pessoa capaz de passar da raiva para a empatia tão facilmente quanto ela era um tesouro, e tinha sorte de tê-la encontrado. Agora ele sabia bastante sobre Julie Barenson. Sua mãe era uma alcoólatra, com preferência por vodca, que morava em um trailer caindo aos pedaços nos arredores de Daytona. O pai morava em Minnesota com outra mulher e sobrevivia com uma pensão por invalidez em decorrência de um acidente de trabalho na construção civil. Os pais dela estavam casados havia dois anos quando ele deixou a cidade de repente. Julie já tinha 3 anos na época. Seis homens diferentes moraram com ela e a mãe durante vários períodos, sendo o mais curto de um mês e o mais longo, dois anos. Elas haviam se mudado meia dúzia de vezes, sempre de uma espelunca para outra. Julie trocara de escola todos os anos até o ensino médio. Aos 14, teve o primeiro namorado, que jogava futebol e basquete, e eles tiraram uma foto juntos para o anuário. Atuou em papéis secundários em duas peças na escola. Saiu antes de se formar e desapareceu por alguns meses até chegar a Swansboro. Richard não tinha a menor ideia do que Jim zera para atraí-la para um lugar como aquele." Nickolas Sparks- O Guardião
"–Richard – disse Julie. – Oi, Julie. – Ele lhe entregou um buquê de rosas. – Comprei no aeroporto e vim direto para cá. Desculpe-me por não estarem tão frescas, mas não havia muitas opções. Julie estava em pé à soleira, com Singer ao seu lado. Ele havia parado de rosnar assim que ela abrira a porta e Richard lhe estendeu a mão espalmada. Singer a cheirou antes de olhar para cima, certicando-se de que o rosto correspondia ao cheiro familiar. Depois deu as costas para Richard, como se dissesse: Ah, é ele. Não estou muito feliz com isso, mas tudo bem. Aquilo não era fácil para Julie. Ela hesitou antes de pegar as flores, desejando que Richard não as tivesse levado. " Nickolas Sparks - O Guardião
"Sabendo que não conseguiria pegar no sono, Julie se sentou no sofá e começou a folhear as páginas de um catálogo, repassando a noite. Estava feliz por Mike não a ter beijado na varanda, embora não soubesse bem por quê. Talvez só precisasse de mais tempo para se acostumar com seus sentimentos recém-descobertos por ele. Ou talvez apenas quisesse vê-lo em agonia. Mike cava uma graça angustiado, de um jeito que só ele era capaz de car. E Henry tinha razão. Era divertido provocá- lo. Julie pegou o controle remoto e ligou a televisão. Ainda era cedo, antes das dez, e ela decidiu ver um lme, um drama sobre um xerife de cidade pequena que se sentiu compelido a arriscar a vida para salvar pessoas. Vinte minutos depois, justamente quando o xerife estava prestes a salvar uma jovem presa num carro em chamas, alguém bateu à porta" . Nickolas Sparks- O Guardião
"Julie pensou nele mais de uma vez durante o jantar. O que a surpreendeu foi que Mike, mesmo tornando aquilo mais difícil do que deveria ser, estava se saindo muito bem. Ele nunca seria como Jim, mas havia algo no modo como ela se sentia quando estava com ele que a lembrava dos bons momentos em seu casamento. E agora tinha certeza, como tivera com Jim, de que Mike a amava e nunca deixaria de amá-la. Durante o jantar, a ideia de que aquilo era traição só lhe ocorreu uma vez, deixando-a com a impressão de que Jim, de algum modo, os estava observando, mas esse pensamento desapareceu tão rápido quanto surgira. E pela primeira vez ela teve uma sensação de conforto que lhe garantiu que Jim não ficaria nem um pouco aborrecido com isso. " Nickolas Sparks - O Guardião
"Lembrando-se dessas coisas, Julie observou Mike comer, com os cantos dos lábios ligeiramente erguidos e lutando com os de queijo que se esticavam de sua boca para a fatia de pizza, fazendo aquilo parecer mais difícil do que era. Depois de dar uma mordida, às vezes ele se aprumava e se atrapalhava com o pedaço, usando os dedos para impedir que o recheio caísse ou o molho de tomate pingasse. Então, rindo de si mesmo, limpava o rosto com um guardanapo, murmurando algo como “quase acabei com minha camisa”. O fato de Mike não se levar muito a sério e não se importar quando ela também não o levava fazia com que ela sentisse por ele uma ternura que a lembrava de como imaginava que casais de idosos se sentiam sentados de mãos dadas em bancos de parques. Ainda estava pensando nisso alguns minutos depois, quando o seguiu até a cozinha, os dois carregando os restos do jantar, e o viu encontrar o plástico-lme na gaveta ao lado do fogão sem precisar perguntar onde estava. Quando Mike se encarregou de embrulhar a pizza e guardá-la na geladeira e depois, automaticamente, estendeu o braço para o lixo, notando que estava cheio, houve um momento, apenas um momento, em que a cena pareceu não estar ocorrendo agora, mas em algum momento no futuro, como se fosse apenas uma noite comum entre tantas outras que passariam juntos." Nickolas Sparks- O Guardião
"Embora o passeio de balão tivesse sido divertido – apesar de um pouco assustador quando o vento cou mais forte –, de tudo o que eles zeram, de andar de mãos dadas a posar alegremente enquanto Richard tirava fotos dela, o programa de que Julie mais gostou foi o piquenique. Estava mais de acordo com as coisas às quais estava acostumada, reetiu. Tinha ido a muitos piqueniques em sua vida – Jim gostava deles – e por um momento se sentiu ela mesma de novo. Essa sensação não durou muito. Na cesta de piquenique havia uma garrafa de Merlot, além de queijos e frutas e, quando acabaram de comer, Richard se ofereceu para massagear seus pés. Isso lhe pareceu antiquado. No início ela riu e disse não, mas quando ele pegou seu pé com delicadeza, tirou sua sandália e começou a massageá-lo, ela cedeu, imaginando que Cleópatra devia se sentir de um modo muito parecido quando relaxava sob o abanar suave de folhas de palmeira. Estranhamente, naquele momento Julie pensou em sua mãe. Ainda que tivesse concluído havia muito tempo que ela não era nem um pouco conável como mãe ou modelo de comportamento, lembrou-se de algo que ela dissera certa vez, quando Julie lhe perguntara por que havia parado de se encontrar com um namorado recente."
Nickolas Sparks- O Guardião
"Julie cou encantada com tudo: os casais em trajes noturnos tomando vinho no jardim antes de o espetáculo começar; o silêncio da multidão quando as luzes se apagaram; as primeiras notas vigorosas da orquestra, que zeram com que ela se sobressaltasse; o romance e a tragédia da história; o virtuosismo das interpretações e as canções, algumas tão lindas que a deixaram com os olhos marejados. E as cores! Os adereços e trajes muito coloridos, o uso de focos de luz intensa e sombras assustadoras, tudo combinando para criar um mundo no palco estranhamente surreal e muito vivo. Toda a noite parecera uma fantasia, concluiu. Nada daquilo era familiar e, durante algumas horas, ela havia se sentido como se tivesse entrado em um universo paralelo, no qual não era uma cabeleireira de uma cidade pequena, o tipo de garota cujo grande feito da semana era algo trivial, como tirar uma marca de sujeira ao redor da banheira. Não, aquele era outro mundo, um lugar ocupado por habitantes de comunidades fechadas e exclusivas, que analisavam cotações de ações nos jornais enquanto a babá arrumava as crianças para a escola. Mais tarde, quando ela e Richard saíram do teatro, não teria achado estranho se tivesse visto duas luas no céu. "   Nickolas Sparks- O Guardião
"Durante todo o tempo Mike cou sorrindo, concordando com a cabeça e odiando Richard. Pouco depois, enquanto Emma e Julie falavam sobre as novidades na cidade, Richard terminou sua bebida. Depois de perguntar se Julie queria mais alguma coisa, pediu licença para voltar ao bar. Quando Henry lhe perguntou se ele se importaria de pegar mais algumas cervejas, Mike se levantou e se ofereceu para acompanhá-lo. – Eu ajudo. Foram para o bar e o atendente fez um sinal indicando que os atenderia assim que pudesse. Richard pegou sua carteira e, embora Mike estivesse bem ao seu lado, permaneceu em silêncio. – Ela é uma grande mulher – observou Mike. Richard se virou e pareceu estudá-lo antes de voltar a olhar para o outro lado. – É, sim – respondeu simplesmente. " Nickolas Sparks- O Guardião
 "E, embora seus casamentos tivessem terminado de maneiras bem diferentes, algo no tom de Richard sugeria que ele havia sido abandonado e experimentara sentimentos de perda. Em todo o tempo que passara em Swansboro, Julie nunca conhecera ninguém que entendesse como ela às vezes se sentia solitária, sobretudo durante as férias, quando Mike e Henry iam visitar os pais ou Mabel ia para Charleston passar um tempo com a irmã. Mas Richard sabia como era isso e ela começava a sentir a anidade entre eles, a mesma anidade que os turistas sentem no exterior quando descobrem que as pessoas na mesa ao lado são de seu país. À medida que a noite avançava, o céu ia escurecendo, revelando as estrelas. Nem Julie nem Richard se apressaram em terminar o jantar. No m da refeição pediram café e dividiram uma fatia de torta de limão. Ainda fazia calor quando eles nalmente foram embora. Esperando que Richard lhe oferecesse a mão ou o braço, Julie cou surpresa por ele não fazer nem uma coisa nem outra. Uma parte dela se perguntou se ele estaria se contendo por ter percebido que ela fora apanhada desprevenida por aquele beijo, no início da semana. Outra parte se perguntou se Richard estaria surpreso consigo mesmo por tudo o que lhe contara sobre seu passado. Havia muito a digerir, pensou ela." Nickolas  Sparks- O Guardião
"No sábado à noite, durante o jantar, Richard olhou para Julie, do outro lado da mesa, com um leve sorriso brincando em seus lábios. – Por que você está sorrindo? – perguntou ela. Richard pareceu voltar ao presente, com uma expressão encabulada. – Desculpe. Eu só estava sonhando acordado por um segundo. – Estou sendo tão entediante assim? – De jeito nenhum. Só estou feliz por você estar comigo esta noite. – Levando o guardanapo ao canto da boca, ele a olhou. – Eu já disse que você está linda hoje? – Um monte de vezes. – Quer que eu pare de repetir? – Não. Pode achar estranho, mas gosto que me coloquem num pedestal. Richard riu. – Farei o possível para mantê-la nele. Eles estavam no Pagini’s, um restaurante aconchegante em Morehead City, com cheiro de temperos frescos e manteiga derretida. O tipo de lugar em que os funcionários vestiam uniformes preto e branco e a comida muitas vezes era preparada ao lado da mesa. Havia uma garrafa de chardonnay num balde de gelo sobre a mesa e o garçom lhes servira duas taças que produziam um brilho amarelo à luz suave. Richard havia aparecido à porta usando um paletó de linho, segurando um buquê de rosas e com um cheiro discreto de água-de-colônia. – Então, como foi sua semana? – perguntou ele. – Que coisas empolgantes aconteceram na minha ausência? – Quer dizer, no trabalho? – No trabalho, na vida, no que for. Quero saber de tudo." Nickolas Sparks - O Guardião
"Eu me diverti muito no sábado à noite, dissera Julie. Richard estava quase certo de que ela havia se divertido, mas precisara vê-la hoje para conrmar. Sabia que a mente era capaz de criar coisas estranhas no dia seguinte a um encontro. Perguntas, anseios, preocupações... Deveria ter feito isso, deveria ter dito aquilo? Ele havia reconstituído cada detalhe do encontro, lembrando-se das expressões de Julie e tentando encontrar sinais em suas armações que sugerissem que ele havia feito algo errado. Não conseguia dormir, até que em escreveu o bilhete que deixaria na casa dela para que o encontrasse de manhã." Nickolas Sparks- O Guardião
"Julie pensou um pouco. Embora fosse prematuro, ele não tinha ido longe demais. Ela de fato o achava atraente e concordara em sair com ele, por isso talvez “surpreendente” não fosse bem a palavra. Ao mesmo tempo sabia que, se ele tivesse agido assim depois do encontro no próximo sábado, ela provavelmente não o questionaria. Talvez fosse ficar ofendida se ele não tentasse beijá-la. Então por que tinha a sensação de que ele havia acabado de atravessar uma barreira sem lhe pedir permissão? Julie deu de ombros. – Acho que é isso." Nickolas Sparks- O Guardião
"Mas Richard havia telefonado para o salão esta manhã, perguntando por Julie. Pior: Julie provavelmente não tivera que pagar o jantar para que ele ligasse para ela. Por que Julie conseguia todos os homens bons?, perguntou-se Andrea. Não era por se vestir bem. Na maior parte do tempo ela era bem básica, com seus jeans e suéteres folgados e – para ser bem franca – sapatos feios. Julie não se esforçava muito para se produzir, não fazia as unhas e não se bronzeava, exceto no verão, o que qualquer um podia fazer. Então por que Richard havia ficado tão interessado nela? Ambas estavam lá na semana passada, quando ele entrou no salão paria cortar os cabelos. Ambas tinham a agenda livre, o olharam e cumprimentaram ao mesmo tempo. Mas Richard tinha escolhido Julie, não ela, e de algum modo isso levara a um encontro. Andrea franziu as sobrancelhas". Nickolas Sparks- O Guardião
"Querida Jules, Sei que, se você está lendo esta carta, eu já parti. Não sei exatamente há quanto tempo, mas espero que você esteja se recuperando. Sei que isso seria difícil para mim se eu estivesse em seu lugar, mas você sabe que sempre a achei mais forte que eu. Como pode ver, comprei um cachorrinho para você. Harold Kuphaldt era amigo de meu pai e cria cães da raça dinamarquês desde que eu era criança. Quando garoto, eu queria ter um, mas a casa era muito pequena e minha mãe nunca deixou. Eles são cães grandes, mas, segundo Harold, são os mais doces do mundo. Espero que você goste dele (ou dela). Acho que no fundo eu sempre soube que não iria sobreviver. Mas não queria pensar nisso, pois sabia que você não tinha ninguém para ajudá-la a passar por algo assim. Quero dizer, ninguém da família. Eu cava de coração partido ao pensar que você enfrentaria tudo isso sozinha. Sem saber o que mais poderia fazer,
tomei providências para lhe dar esse cão. É claro que você não é obrigada a ficar com ele se não quiser. Harold disse que o aceitará de volta, sem problemas. (O número do telefone dele deve estar na caixa.) Espero que você esteja bem. Desde que adoeci sempre me preocupei com isso. Eu amo você, Jules. Amo de verdade. Fui o homem mais sortudo do mundo por você ter entrado em minha vida. Eu caria arrasado se você nunca mais voltasse a ser feliz. Então, por favor, faça isso por mim. Seja feliz de novo. Encontre alguém que a faça feliz. Isso pode ser difícil ou talvez você pense que é impossível, mas eu gostaria que tentasse. O mundo fica melhor quando você sorri. E não se preocupe. De onde estiver, cuidarei de você. Serei seu anjo da guarda, querida. Pode contar comigo para protegê-la. Amo você, Jim" Nickolas Sparks- O Guardião
"Véspera de Natal, 1998
Exatos quarenta dias após ter segurado a mão de seu marido pela última vez, Julie Barenson estava sentada diante da janela, olhando as ruas tranquilas de Swansboro, Carolina do Norte. Fazia frio. O céu estava fechado havia uma semana e a chuva batia suavemente na vidraça. As árvores estavam desfolhadas e os galhos ásperos, curvados ao vento como dedos artríticos. Julie sabia que Jim teria desejado que ela ouvisse música essa noite. Ao fundo, Bing Crosby cantava “White Christmas”. Também havia sido para ele que montara a árvore, mas quando decidira fazer isso os únicos pinheiros restantes já estavam secos, abandonados do lado de fora do supermercado para quem quisesse levá-los. Não tinha importância. Na verdade, não conseguira reunir energia suciente para se importar nem mesmo depois de terminar de decorar a árvore. Estava difícil sentir qualquer coisa desde que o tumor no cérebro de Jim enfim lhe tirara a vida. Aos 25 anos, Julie era viúva e detestava tudo nessa palavra: o som, o signicado, o modo como sua boca se movia ao pronunciá-la. Evitava-a ao máximo. Se as pessoas lhe perguntavam como estava, limitava-se a dar de ombros. Mas às vezes, apenas às vezes, sentia necessidade de responder. Quer saber como é ser viúva? Então lhe direi: Jim está morto e agora sinto como se eu também já não vivesse mais. Julie se perguntava se era isso que as pessoas queriam ouvir. Ou se esperavam que ela dissesse os lugares-comuns: Vou cair bem. É difícil, mas vou superar isso. Obrigada por perguntar. Ela achava que poderia se mostrar forte, mas nunca zera isso. Era mais simples e honesto apenas dar de ombros e não dizer nada. Anal de contas, não sentia que caria bem. Durante metade do tempo não achava nem que seria capaz de chegar ao m do dia sem desmoronar. Sobretudo em noites como essa. Julie encostou a mão na janela, que reetia o brilho das luzes da árvore, sentindo o vidro frio em sua pele."   Nickolas Sparks-  O Guardião

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