sábado, 25 de maio de 2013

"Os sonhos dos prisioneiros   Compreende-se perfeitamente que naquela situação psicológica sem saída e sob a pressão da necessidade de se concentrar na preservação imediata da vida, toda a vida anímica parece baixar a um nível primitivo. Por isso, colegas de orientação psicanalítica entre os companheiros costumavam falar de uma "regressão" da pessoa no campo de concentração, de um retraimento a uma forma mais primitiva da vida anímica. Essa primitividade dos desejos e anseios se revela nos sonhos típicos dos reclusos.   Qual é o sonho mais frequente da pessoa internada no campo? Ela sonha com pão, com tortas, cigarros e com uma banheira cheia de água quente. A não- satisfação das respectivas necessidades mais primitivas fá-lo experimentar a satisfação das mesmas em sonhos primitivos. Outra coisa é o efeito desse sonho sobre quem sonha, no momento em que desperta para a realidade do campo de concentração e sente o terrível contraste entre a ilusão do sonho e a realidade do campo.   Jamais vou esquecer certa noite em que fui acordado pelo companheiro que dormia ao meu lado a gemer e revolver-se, evidentemente sob o efeito de algum pesadelo horrível. Quero observar de antemão que pessoalmente sempre tive penas de pessoas torturadas por angustiosos pesadelos ou fantasias. Por isso eu já estava prestes a acordar o pobre companheiro atormentado pelo pesadelo. Neste instante assustei-me do meu propósito e retirei a minha mão que já ia despertar o companheiro do seu sonho. Pois naquele momento me conscientizei com muita nitidez de que nem mesmo o sonho mais terrível poderia ser tão ruim como a realidade que nos cercava ali no campo; e eu estava prestes a chamar alguém de volta para a experiência desperta e consciente dessa realidade. . " Victor E. Frankl- Um Psicólogo no Campo de Concentração

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