sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Os dois, silenciosamente (falta-lhes coragem para falar), fazem um para o outro a pergunta que Cecília Meireles fazia à sua avó morta: "Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos móveis? No teto?" Sim, para onde foi a imagem que me fez feliz, a imagem que morava nesse rosto? Agora, por mais que examinem, não conseguem encontrar sinais da sua presença. O
rosto está opaco. Nesse mesmo rosto, agora, mora uma outra imagem, estranha, feita com materiais desumanos: pedra, gelo, fogo, deboche, alfinetes, areia. Contemplam o rosto conhecido e o desconhecem. Não encontram nele a imagem amada. O rosto dói: é o lugar da ausência da imagem que compunha a cena de felicidade que existia na alma "antes de haver o mundo". A cena de felicidade está rasgada. O Paraíso foi perdido.  "Rubem Alves - O Amor que Acendia a Lua

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