sexta-feira, 31 de maio de 2013

 "O mundo do pai era inclemente. Nada de bom era obtido de graça. Nem amor. Todas as coisas tinham um preço. E, se você fosse pobre, o sofrimento era a moeda corrente. Abdullah observou o descamado repartido no cabelo da irmã, seu pulso fino pendurado ao lado da carroça, e sabia que, ao morrer, uma parte de sua mãe havia passado a Pari. Alguma coisa de sua devoção alegre, de inocência, de sua inquebrantável esperança. Pari era a única pessoa no mundo que jamais, jamais iria magoá​-lo. Em algumas ocasiões, Abdullah sentia que ela era sua única família. As cores do dia lentamente se dissolveram em cinza, e os distantes picos das montanhas se transformaram em silhuetas opacas de gigantes agachados. No início do dia, eles tinham passado por várias aldeias, a maioria tão remota e empoeirada quanto Shadbagh. Casas pequenas e quadradas feitas de barro cozido, às vezes erguidas na encosta de uma montanha e às vezes não, nuvens de fumaça subindo dos telhados. Linhas de varais, mulheres acocoradas perto de fogareiros. Poucos álamos, algumas galinhas, um punhado de vacas e cabras, e sempre uma mesquita. A última aldeia por que passaram ficava ao lado de um campo de papoulas, onde um velho que trabalhava nas vagens acenou para eles. Gritou alguma coisa que Abdullah não conseguiu ouvir. O pai retribuiu o aceno." Khaled Hossei- O Silêncio das  Montanhas

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