sábado, 25 de maio de 2013

" Espinoza como educador   Assim fica evidente que toda tentativa psicoterapêutica ou mesmo psicohigiênica de combater os fenômenos psicopatológicos suscitados no prisioneiro pela vida no campo de concentração necessariamente terá que procurar a reconstrução interior da pessoa lá e a despeito de lá, procurando fazê-la orientar-se para o futuro, para um alvo no futuro. Instintivamente um ou outro recluso o fez por si. A maioria dispunha de algo que os sustentava, e geralmente se tratava de um pedaço de futuro. Não deixa de ser uma peculiaridade do ser humano que ele somente pode existir propriamente com uma perspectiva futura, de certa forma subespécie aeternitatis - perspectiva da eternidade.. " (A emoção que é sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que dela
formarmos uma ideia clara e nítida. - Ética, quinta parte, "Do poder do espírito ou a liberdade humana", sentença III.)   Quem não consegue mais acreditar no futuro - seu futuro - está perdido no campo de concentração. Com o futuro, tal pessoa perde o apoio espiritual, deixa-se cair interiormente e decai física e psiquicamente. Geralmente isto acontece de forma até bastante repentina, numa espécie de crise cujos sintomas o recluso relativamente experiente conhece muito bem. Cada um de nós temia aquele momento em que se manifestava pela primeira vez essa crise - não em si próprio, pois então já teria sido indiferente, e sim em seus amigos. Geralmente essa crise se configurava da seguinte maneira: A pessoa em questão certo dia ficava simplesmente deitada em seu barracão, e ninguém conseguia persuadi-la a botar a roupa, ir ao lavatório ou mesmo a se apresentar na formatura de chamada. Nada mais surtia efeito, nada lhe metia medo, nem súplicas, nem ameaças, nem golpes, tudo em vão. O sujeito simplesmente ficava deitado, não se mexia, e quando uma doença provocava essa crise, a pessoa se negava inclusive a ser transportada para o ambulatório ou tomar qualquer medida em prol de si mesma. Ela entrega os pontos! Fica deitada até nas próprias fezes e urina, pois nada mais a interessa. " Viktor E. Frankl- Um Psicólogo no Campo de Concentração.

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