sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Bem — ela diz, de forma coquete. — O que você diz a seu favor, Timur? Nos Estados Unidos, Timur é chamado de Tim. Mudou o nome depois do Onze de Setembro e garante que desde então quase duplicou seus rendimentos. Livrar​-se daquelas duas letras, disse a Idris, já havia feito mais pela carreira dele que um diploma universitário — isso se tivesse ido à faculdade, o que ele não fez; Idris é o acadêmico da família Bashiri. Mas, desde a chegada a Cabul, Idris só viu o primo se apresentar como Timur. É uma duplicidade inofensiva, até necessária. Mas irrita.
— Desculpe pelo que aconteceu ali dentro — diz Timur. — Talvez eu castigue você. — Calma, gatinha. Amra muda o olhar para Idris. — Então. Ele é o caubói arrojado, e você, você é sensível e calado. Você é, como se diz? Introvertido? — Ele é médico — diz Timur. — Ah? Deve ser um choque para você, então. Este hospital? — O que aconteceu com ela? — pergunta Idris. — Com Roshi. Quem fez isso? Amra fecha a cara. Quando fala, é em tom determinado e maternal. — Eu luto por ela. Luto contra o governo, a burocracia do hospital, os neurocirurgiões canalhas. Luto por ela passo a passo. E não paro. Ela não tem ninguém. Idris diz: — Eu achei que havia um tio. — Ele também é canalha. — Bate a cinza do cigarro. — Então. Por que vieram aqui, meninos? Timur começa a explicar. No geral, o que ele diz é mais ou menos verdade. Que eles são primos, que as famílias fugiram depois da invasão soviética, que passaram um ano no Paquistão antes de se estabelecer na Califórnia no início dos anos 1980. Que é a primeira vez que voltam em vinte anos. Mas acrescenta que voltaram para se “reconectar”, para se “educar”, para “testemunhar” o rescaldo de todos esses anos de guerra e destruição. Os dois querem voltar aos Estados Unidos, continua, para se conscientizar, angariar fundos, para “retribuir”. — Nós queremos retribuir — afirma, repetindo aquela afirmação batida com tanta seriedade que deixa Idris envergonhado. Claro que Timur não revela que eles vieram para reivindicar o imóvel em Shar​-e​- Nau, que pertencia aos pais deles, a casa onde ele e Idris viveram os primeiros catorze anos da vida. O valor do imóvel agora é astronômico, por conta dos milhares de funcionários de agências assistenciais estrangeiras que chegaram a Cabul precisando de um lugar para ficar. Estiveram lá naquela manhã, na casa, que atualmente serve como moradia para um desordenado grupo de soldados da Aliança Norte de aparência cansada. Quando estavam indo embora, encontraram um homem de meia​-idade, que morava três casas abaixo, do outro lado da rua, um cirurgião-plástico grego chamado Markos Varvaris. Convidou os dois para almoçar e se ofereceu para levá​-los a uma turnê pelo hospital Wazir Akbar Khan, onde a ONG em que trabalhava mantinha um escritório. Também os convidou para uma festa naquela noite. Eles só souberam da garota quando chegaram ao hospital " Khaled  Hosseini- O Silêncio das Montanhas

Nenhum comentário:

Postar um comentário