sábado, 25 de maio de 2013

"Algo está esperando   As tentativas embrionárias de uma psicoterapia ou psicahigiene no campo de concentração foram de natureza individual e coletiva. As tentativas psicoterapêuticas individuais foram muitas vezes um "tratamento" urgente para salvar a vida. Afinal esses esforços se destinavam sobretudo à prevenção de suicídios. Para os casos em que se concretizara a tentativa de suicídio havia uma proibição rigorosíssima de salvar a pessoa em questão. Assim era oficialmente proibido, por exemplo, "soltar" companheiros que alguém encontrasse enforcados. Tanto mais se impunha a necessidade de tomar medidas preventivas. Lembro de dois "casos". Apresento-os não só por servirem de paradigmas para a aplicação prática das reflexões acima
expostas, mas por revelarem também um notável paralelismo. Trata-se de dois homens que em conversas haviam manifestado intenções de suicídio. Ambos alegaram da maneira típica que "nada mais tinham a esperar da vida". Importava mostrar a ambos que a vida esperava algo deles, e algo na vida, no futuro, estaria esperando por eles. E de fato revelou-se que por um deles havia um ser humano esperando: seu filho, ao qual idolatrava, "esperava" pelo pai no exterior. Pelo outro "esperava" não uma pessoa, mas um objeto: sua obra. O homem era cientista e publicara uma série de livros sobre determinado tema, a qual não estava concluída e aguardava a sua conclusão. E para esta obra este homem era insubstituível, não podia ser trocado por outro. Mas ele não era nem mais nem menos insubstituível que aquele outro que, no amor da criança, era único e não podia ser trocado. Aquela unicidade e exclusividade que caracteriza cada pessoa humana e dá sentido à existência do indivíduo, faz-se valer tanto em relação a uma obra ou uma conquista criativa, como também em relação a outra pessoa e ao amor da mesma. Esse fato de cada indivíduo não poder ser substituído nem representado é, no entanto, aquilo que, levado ao nível da consciência, ilumina em toda a sua grandeza a responsabilidade do ser humano por sua vida e pela continuidade da vida. A pessoa que se deu conta dessa responsabilidade em relação à obra que por ela espera ou perante o ente que a ama e espera, essa pessoa jamais conseguirá jogar fora a sua vida. Ela sabe do "porquê" de sua existência - e por isso também conseguirá suportar quase todo "como". Viktor E. Frankl- Um Psicólogo no Campo de Concentração

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