sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Ainda assim, Baba estava entre os mais afortunados, pois tinha uma família que prezava acima de todas as coisas. Amava a esposa e nunca erguia a voz para ela, muito menos a mão. Valorizava seus conselhos e sentia um prazer genuíno em sua companhia. Quanto a filhos, foi abençoado com tantos quanto os dedos de uma mão, três filhos e duas filhas, e amava muito a todos eles. As filhas eram diligentes, amáveis e de bom caráter e reputação. Aos filhos, ele já tinha ensinado o valor da honestidade, da coragem, da amizade e do trabalho árduo sem queixas. Eles lhe obedeciam como os bons filhos devem obedecer, e ajudavam o pai nas colheitas. Embora amasse a todos os filhos, Baba Ayub tinha uma preferência secreta e especial por um deles, o mais jovem, Qais, que estava com três anos de idade. Qais era um garotinho de olhos azul​-escuros. Encantava qualquer um que o conhecesse com sua risada maliciosa. Era também um desses garotos tão cheios de energia que chegava a drenar a energia dos outros. Quando aprendeu a andar, ficou tão maravilhado que andava o dia inteiro, enquanto estava acordado, e depois, de forma preocupante, até à noite, durante o sono. Saía sonambulando da casa de taipa da família para vagar sob a luz do luar. Era natural que seus pais se preocupassem. E se ele caísse num poço, ou se perdesse, ou, pior de tudo, se fosse atacado por uma das criaturas à espreita nas planícies à noite? Tentaram diversos remédios, mas nenhum funcionou. No fim, a solução que Baba Ayub encontrou foi simples, como costumam ser as melhores soluções: retirou a sineta de uma das cabras e pendurou no pescoço de Qais" Khaled Hosseini- O Silêncio das Montanhas.

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