"A rosa que amamos pode deixar de florescer a despeito dos nossos mais sinceros esforços. Há algo trágico no poema de Cassiano Ricardo.
Por que tenho saudade de você, no retrato, ainda que o mais recente? E por que um simples retrato, mais que você, me comove, se você mesma está presente? Quando li esse poema pela primeira vez tive a impressão de que ele estava brincando. Agora eu o leio como um lamento. Como eu amo você! Quem ama quer estar junto, segurar as mãos, ficar olhando para o rosto. Mas eu não sinto isso quando estou com você - eu não o encontro em você. Encontro no seu retrato. Olho para você, do outro lado da mesa. E me lembro do seu retrato. O retrato! Olho o seu retrato e sinto saudades. O
retrato é o lugar da ausência. Barthes diz que aquilo que todos os retratos retratam é a morte: o que deixou de ser, o que não é mais. O tempo do retrato é um passado irrecuperável. Amo um objeto que não tem mais existência: a sua imagem no retrato, morta, embora você mesma esteja presente. Meu amor mora num passado sem volta. Sendo esse o caso, não amo você, presente, diante de mim, do outro lado da mesa. A rosa florescia. Por que deixou de florescer? Talvez o amor não passe de uma deliciosa ilusão que se realiza em momentos sagrados, raros. Quando ele acontece é aquela felicidade imensa, aquela certeza de eternidade. "Rubem Alves- O Amor que Acende a Lua
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